Feminista, abolicionista e compositora de música popular nascida no Rio de Janeiro, RJ, criadora de Abre alas! (1899), a primeira marcha carnavalesca brasileira e sucesso até os dias de hoje. Filha natural de uma mulher negra e pobre, Rosa Maria de Lima, com o militar de carreira José Basileu, que mesmo sob forte pressão da família tradicional, assumiu a criança e a registrou como sua filha e deu-lhe rigorosa educação, segundo os padrões de sua época.
Aprendeu a ler e a escrever, fazer contas e, principalmente, tocar piano, e a música tornou-se sua grande paixão e fez sua primeira composição aos 11 anos. Estudou regência e iniciou-se (1858) como compositora de polcas, muito apreciadas na época. Na então sociedade patriarcal, seguindo a vontade de seu pai casou-se (1863), com apenas 16 anos, com Jacinto Ribeiro do Amaral, um homem de negócios de 24 anos. Esse casamento não podia dar certo e a separação foi a única saída quando seu marido exigiu que abandonasse a música, alguns anos depois.
Foi expulsa de casa por seu pai, que, a partir daquele momento, renegou sua paternidade. Com apenas um de seus filhos, João Gualberto, ainda no colo, ela partiu em busca de uma nova vida e assim passou a ganhar a vida como pianista ligada ao choro, compositora e professora, no Rio de Janeiro.
Freqüentando os círculos boêmios carioca, deslanchou sua vocação artística e integrou o grupo Choro do Calado, do músico Joaquim Antonio Calado. A primeira composição de sucesso foi a polca Atraente (1877), mas enfrentou muitas dificuldades para ser aceita neste meio por ser mulher. Seu trabalho foi bastante elogiado, mas causou alguns embaraços na imprensa, especialmente por utilizar o maxixe, dança censurada pela polícia. Passou a compor partituras para peças teatrais, operetas e revistas com relativo sucesso, totalizando cerca de oitenta partituras para teatro musicado e mais de duas mil peças menores.
Dedicou-se à campanha pela Abolição e pela República, mas já desencantada com o novo regime, dirigiu severas críticas ao governo Floriano Peixoto, atitudes que a tornaram alvo dos preconceituosos da época, inclusive compondo uma canção considerada irreverente e recebendo por isso ameaça de prisão. Morando no bairro do cordão carnavalesco Rosa de Ouro, compôs uma peça inspirada nos ensaios do cordão, Ó abre alas (1899), a primeira música feita especialmente para o carnaval, prática que se tornaria comum duas décadas depois.
Participou ativamente na luta pelo direito autoral e fundou a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, a SBAT (1917), primeira entidade de classe para defender os direitos autorais no Brasil. Autora de numerosa e variada obra musical que contribuiu para fixar o cancioneiro popular brasileiro com maxixes, modinhas e o nascente samba urbano. Essa compositora também teve o mérito de aproximar a música erudita da popular e foi uma das primeiras a introduzir o violão nos salões da elite carioca. Morreu no Rio de Janeiro e sua prodigiosa vida foi representada por uma minissérie na Rede Globo de Televisão (1999).