JOSÉ DE ANCHIETA - PADRE JESUÍA PORTUGUÊS

José de Anchieta
José de Anchieta nasceu em La Laguna de Tenerife, ilhas Canárias, em 19 de março de 1534. Estudou na Universidade de Coimbra, onde aprofundou-se em dialética, filosofia, letras, latim e língua portuguesa. Em 1551 ingressou no Colégio dos Jesuítas de Coimbra e, aos vinte anos de idade, foi enviado ao Brasil como integrante da comitiva de Duarte da Costa, segundo governador-geral da colônia.
Em uma das cartas que escreveu durante sua permanência no Espírito Santo, o padre Anchieta diz ter sido enviado para ajudar na doutrinação dos índios, "com os quais me dou melhor do que com os portugueses". Tal era a identificação do religioso, chamado o Apóstolo do Brasil, com seus discípulos, aos quais dedicou o talento literário e a vocação missionária.

Uma plantação de cana-de-açúcar fora instalada na capitania de São Vicente, onde o padre Manuel da Nóbrega, superior da Companhia de Jesus, empenhava-se na fundação de um colégio situado no planalto de Piratininga, berço da cidade de São Paulo. Anchieta foi enviado para colaborar com ele e desempenhou no lugar importante papel, ensinando as primeiras letras aos índios e filhos dos colonos. Por ocasião da revolta dos tamoios, permaneceu de abril a setembro de 1564 como refém dos índios, na praia de Iperoig (Ubatuba SP), enquanto Nóbrega discutia as condições de paz com as autoridades portuguesas. Aos 25 anos tornou-se reitor do Colégio de São Vicente e, 18 anos mais tarde, provincial da ordem.

Transferido para o atual estado do Rio de Janeiro, participou da fundação da cidade homônima, criou o hospital da Misericórdia e atuou na expulsão dos calvinistas franceses. Desenvolveu sua atividade missionária também na Bahia, em Pernambuco e finalmente no Espírito Santo, onde permaneceria até a morte.

A obra de Anchieta apresenta dois aspectos de relevância para a história do Brasil: o trabalho de missionário e o de educador, ligado à criação literária e teatral. Tido como primeiro mestre do Brasil e iniciador da literatura brasileira, exerceu ambos os papéis de maneira harmônica e integrada.

Obra missionária. Para comunicar-se com os índios, Anchieta aprendeu o tupi e sistematizou seus conhecimentos do idioma nativo na Arte da gramática da língua mais usada na costa do Brasil. Pela dedicação a suas tarefas, Anchieta conquistou o respeito e a confiança dos índios. Ao trabalho de catequista, educador e administrador de colégios, acrescentou o cuidado com a saúde dos indígenas, aos quais dispensava tratamentos de origem européia aliados a procedimentos próprios da medicina nativa. Descobriu o valor do teatro e da poesia como recursos pedagógicos, inspirado no princípio clássico do docere cum delectare, de Horácio, segundo o qual os ensinamentos são mais eficazes se ministrados de maneira agradável. Preferia a lição prática encenada no palco ou difundida pela poesia.

Obra literária. A importância da obra de Anchieta decorre em primeiro lugar do fato de ter sido produzida no Brasil e para brasileiros numa época em que a literatura sobre a colônia era meramente informativa e destinada a leitores europeus. Apesar de educado em Coimbra, centro cultural aberto a idéias renovadoras, Anchieta permaneceu fiel à atmosfera medieval. Cultivou a poesia na forma clássica da lírica portuguesa e o teatro no estilo dos autos da moralidade e mistério inspirados em Gil Vicente.

O teatro anchietano combina a herança européia a elementos locais, fiel às finalidades educativas a que se propunha. Entre os autos polilíngües mais notáveis figuram o da Assunção, o das festas de São Lourenço e de Natal e o da vila de Vitória, reunidos no volume das Poesias, conforme os manuscritos do século XVI em português, castelhano, latim e tupi.

Os autos jesuíticos opõem bem e mal, Deus e diabo, céu e terra, vida e morte, prêmio e castigo, luz celestial e treva, salvação e condenação, pecado e santidade. O poeta missionário conquistava os índios pelos sentidos e para isso povoava seus espetáculos de exibições de luxo, pompa e grandiosidade, além de aparições do demônio. As peças, montadas sobre os estrados em aldeias indígenas, cidades, igrejas e colégios, uniam à encenação a música e o canto.

Entre as principais obras de Anchieta destacam-se as peças Ao Santíssimo Sacramento, A santa Inês e o longo poema Bem-aventurada Virgem Mãe de Deus Maria, que mereceu inúmeras edições.

Anchieta morreu em Reritiba, hoje Anchieta ES, em 9 de junho de 1597. Foi beatificado pelo papa João Paulo II em 22 de junho de 1980.

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