MÁRIO DE ANDRADE - ESCRITOR BRASILEIRO

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Mário de Andrade
Mário Raul de Morais Andrade nasceu em São Paulo (SP) em 9 de outubro de 1893. Diplomou-se no Conservatório Dramático e Musical, do qual mais tarde seria professor. Incentivador das principais revistas do modernismo na fase polêmica de afirmação do movimento, como Klaxon, Estética e Terra Roxa e Outras Terras, soube conciliar a vida de poeta com o estudo da música, das artes plásticas e do folclore brasileiro, áreas nas quais deixou trabalhos de fundamental importância. Diretor do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo (1934-1937), fundou a Discoteca Pública e a Sociedade de Etnografia e Folclore. No Rio de Janeiro, lecionou estética e história da arte na Universidade do Distrito Federal (1938-1940). Voltando a São Paulo, passou a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

"O passado é lição para se meditar, não para reproduzir." Com essa idéia de romper com a tradição para se lançar sem amarras à aventura do novo -- e muitas outras de idêntico teor enfeixadas no "Prefácio interessantíssimo" de Paulicéia desvairada (1922) -- Mário de Andrade tornou-se a maior presença isolada, a partir da Semana de Arte Moderna de 1922, nas tentativas de definir e animar novos caminhos para a criação artística brasileira.

As concepções renovadoras de Mário de Andrade, sintetizadas em forma de poesia no célebre prefácio de Paulicéia desvairada, foram desenvolvidas depois em A escrava que não é Isaura (1925). Desde o início, sua própria poesia -- arma que sai do campo estético para opor-se ao imobilismo de uma sociedade anacrônica -- é a mais perfeita ilustração de suas várias doutrinas.

Mário, que queria escrever em "brasileiro", sem os vícios da língua importada, apontou o verso livre, a rima solta e casual, a troca da racionalidade pelo fluir do inconsciente e a libertação da palavra como características da nova ordem poética que ele ajudou a criar. Ao mesmo tempo, voltou-se irado contra "as aristocracias cautelosas", "a digestão bem feita de São Paulo", "os barões lampeões! os condes Joões! os duques zurros!" que seriam os verdadeiros pilares da ordem caduca.

Sempre tocada por sopros de experimentalismo e invenção, sua obra poética prosseguiu sobretudo com Losango cáqui (1926), Clã do jabuti (1927), Remate de males (1930), Lira paulistana (1946) e O carro da miséria (1947), reunidos em Poesias completas (1955). Foi inovando com audácia e rebelando-se contra a mesmice das normas que ele chegou a Macunaíma, texto que escreveu em 1926 e chamou de rapsódia ao publicá-lo em 1928. Com enorme sucesso, a obra repercutiu em todo o país por seus enfoques inéditos. Sob um fundo romanesco e satírico, aí se mesclavam numa narrativa exemplar a epopéia e o lirismo, a mitologia e o folclore, a história e o linguajar popular. O personagem-título, um "herói sem nenhum caráter", viria a ser uma síntese, o resumo das virtudes e defeitos do brasileiro comum. Nascido em plena selva amazônica, e daí transplantado para o coração febril de São Paulo, Macunaíma recorre à esperteza e à macumba a fim de derrotar o opressor estrangeiro: o nacionalismo proposto em 1922, e inseparável da formação do modernismo, havia encontrado nele sua expressão mais legítima.

Tão importante quanto sua poesia e ficção -- nesta se incluem com destaque o idílio ou romance Amar, verbo intransitivo (1927) e os contos de Belasarte (1934) e Contos novos (1947) -- é a vasta produção de sua obra crítica. Polivalente e metódico, sempre instigante ao discutir idéias, Mário escreveu sobre os assuntos mais variados em ensaios como "A música e a canção popular no Brasil", "O samba rural paulista", "O Aleijadinho" e "Lasar Segall". Alguns dos seus mais férteis estudos literários estão reunidos no volume Aspectos da literatura brasileira (1943).

Um capítulo à parte nessa produção sem fronteiras é constituído pela correspondência do autor, volumosa e cheia de interesse, ininterruptamente mantida com colegas como Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Augusto Meyer. Suas cartas conservaram, de regra, a mesma prosa saborosa de suas criações com palavras -- um lirismo que, como ele disse, "nascido no subconsciente, acrisolado num pensamento claro ou confuso, cria frases que são versos inteiros, sem prejuízo de medir tantas sílabas, com acentuação determinada". Coberto de reconhecimento pelo papel de vanguarda que desempenhou em três décadas, Mário de Andrade morreu em São Paulo SP em 25 de fevereiro de 1945.

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