Nasceu em 1829, na cidade de Triunfo, no Rio Grande do Sul, com o nome de José Joaquim de Campos Leão. Em 1839, muda para Porto Alegre onde estudaria gramática e trabalharia no comércio. Em 1850, habilita-se para o magistério público, passando a exercer o cargo de "professor de primeiras letras", ele daria aulas até 1855.
Em 1851 cria um grupo dramático. Em 1857, muda para Alegrete, cidade em que funda um colégio de instrução primária e secundária. É eleito vereador da Câmara Municipal de Alegrete, em 1860.
Maníaco obsessivo, enfrentou um processo de interdição movido por sua própria esposa, Inácia de Campos Leão, que em 1862, pediu a interdição judicial dos bens do marido, alegando a insanidade mental do marido, que acabou perdendo seus direitos civis e seus bens. Por ordens médicas, foi forçado a parar de escrever.
Professor, fundador e diretor de um colégio, subdelegado, vereador, comerciante e escritor, José Joaquim de Campos Leão (Qorpo Santo) nasceu em 19 de abril de 1829, na Vila do Triunfo e faleceu em 1 de maio de 1883 em Porto Alegre, com 53 anos.
Precursor do Teatro do Absurdo e do Surrealismo na dramaturgia, Qorpo Santo chocou a sociedade de sua época. Sua obra teatral só foi apresentada ao público pela primeira vez em 1966 ou 1968 (não se sabe ao certo) através da montagem de três de suas peças. Foi ele antecessor de Alfred Jarry, considerado por muitos o precursor do Teatro do Absurdo.
"Se o autor parece ansiar por um mundo em que prevaleçam a ordem e a obediência aos preceitos religiosos e legais, logo se insinua a malícia e o deboche, colocando em ridículo tais objetivos e mostrando a precariedade de nossos juízos", escreve Eudinyr Fraga, um dos principais pesquisadores da obra de Qorpo Santo.
Segundo o professor Eudinyr Fraga, as peças estão mais próximas do surrealismo de André Breton, autor do Manifesto Surrealista, do que do absurdo de Eugène Ionesco. Um dos argumentos é a presença das divagações dos chamados ''fluxos de consciência'', método que aparece no surrealismo do início do século 20 como ''automatismo psíquico puro''. A enxurrada de palavras aparece em diferentes textos, entre os quais As Relações Naturais. Mas também há elementos do absurdo.
Em 1877, o gaúcho José Joaquim Campos Leão, já autodenominado Qorpo-Santo, conseguiu autorização para abrir uma tipografia. Era a oportunidade que lhe restava para imprimir obras de sua autoria. Seus planos eram audaciosos, mas sua mente, já enferma, começava a preocupar os familiares. Até sua morte, provocada pela tuberculose em 1883, imprimiu em mau papel e com uma ortografia que repugnava o leitor de então os nove volumes de Ensiqlopédia, seu testamento literário. Da coleção, perderam-se dois volumes e, dos outros sete, existe apenas um exemplar de cada.
Mais de cem anos depois, a obstinação em perpetuar a obra parece não ter fim - em 1995, a pesquisadora Denise Espírito Santo descobriu um daqueles volumes, justamente o que continha 537 poemas escritos por Qorpo-Santo.
Foram dez meses vasculhando sebos e bibliotecas particulares de Porto Alegre até encontrar a raridade. Até então, conheciam-se apenas as 17 peças teatrais de sua autoria, daí a importância da descoberta. "Foi uma grande vitória pessoal", conta Denise, que não encontrou, porém, uma editora que aceitasse imprimir a jóia literária. Foram cinco anos de negociações até que a pequena Contra Capa, do Rio, apostasse no projeto.
"Fiz questão de exigir cuidados mínimos com a obra, o que acabou afugentando muitos editores", conta a pesquisadora, que incluiu uma foto inédita de Qorpo-Santo na capa do livro, finalmente lançado e intitulado Poemas (Contra Capa, tel. 0--21-236-1999, 384 páginas, R$ 37). Ao analisar o texto, Denise notou as características mais notáveis do escritor. "São textos de uma lógica impecável, que subverte padrões", observa. "Os poemas vão se somar agora ao teatro, pois têm a mesma linha de intenção de retratar o cotidiano com um espírito cômico, satírico."
Denise acredita que a obra acrescenta à poesia brasileira um estilo novo, em que assuntos triviais e nonsense (adotados depois pelos modernistas) dominam os temas, o que contraria as convenções estéticas do romantismo do século 19. Qorpo-Santo inovou também ao propor uma reforma ortográfica da língua: em sua poesia, a letra "c", por exemplo, deixa de ter o som de "q". "O cruzamento de línguas e culturas que sempre ocorreu no Sul foi fundamental em suas inovações vocabulares e também no uso do português castiço, em que mistura o erudito com o popular."
Os dados conhecidos de sua vida vêm de uma autobiografia, já escrita com sua peculiar ortografia. José Joaquim de Campos Leão nasceu em 1829, na Vila do Triunfo, Rio Grande do Sul. Sua vida transcorre normal, habilitando-se para o magistério até chegar aos 30 anos, quando acreditou-se santo e resolveu adotar o pseudônimo.
Em 1862, surgem as primeiras manifestações da doença que levariam a família a pedir intervenção judicial de seus bens. É avaliado por dois peritos de Porto Alegre, mas os médicos divergem sobre sua sanidade mental. Começa, então, a escrever compulsivamente os textos que vão compor a Ensiqlopédia.
"A análise destes textos me fazem acreditar que ele não estava louco", comenta Denise. "Há um rigor impecável, principalmente no uso da sua linguagem própria, o que seria difícil se estivesse com problemas mentais."
Transgressão - Em 1873, sofre as primeiras perseguições por suas idéias, publicadas em alguns jornais locais. Também nessa época, Qorpo-Santo começa a sentir os primeiros sintomas de problemas respiratórios. Mesmo assim, não interrompe a escrita - o planejamento, sem ser rigoroso, apresenta divisões não muito nítidas, alternando texto em prosa e em verso. É o período em que desenvolve as peças de teatro, com suas características de transgressoras e de vanguarda (leia texto abaixo).
"Qorpo-Santo tinha necessidade de falar de seu ofício, além de revelar suas influências, desde as peças encenadas em circos até as operetas apresentadas por companhias italianas, em Porto Alegre", conta Denise. Depois de publicar todos seus textos na própria tipografia, entregou os únicos exemplares de cada um dos nove volumes a um amigo comerciante. "Os livros ficaram na biblioteca desta família até que foram vendidos para sebos e sumiram."
Começou então um período de total silêncio sobre a obra de Qorpo-Santo, até a redescoberta, promovida pelo estudioso Guilhermino César, que organizou a primeira edição das peças teatrais, em 1969. O colecionador Julio Petersen, de Porto Alegre, localizou três volumes, outro foi doado ao Instituto Histórico da capital gaúcha e outros três pertencem à família Assis Brasil.
As obras foram fonte de pesquisa de Denise. Como estavam irregularmente distribuídos por vários volumes, a pesquisadora reuniu os poemas por afinidades temáticas. Também atualizou a ortografia para facilitar o entendimento. "Li todo o material durante dois anos até chegar à ordem em que foi publicado." A pesquisadora, porém, não está satisfeita: pretende lançar, até abril, outro volume, Miscelânea Quriosa, com mais textos de Qorpo-Santo. "Ainda faltam redescobrir dois livros", justifica.
Fonte: www.secrel.com.br
Em 1851 cria um grupo dramático. Em 1857, muda para Alegrete, cidade em que funda um colégio de instrução primária e secundária. É eleito vereador da Câmara Municipal de Alegrete, em 1860.
Maníaco obsessivo, enfrentou um processo de interdição movido por sua própria esposa, Inácia de Campos Leão, que em 1862, pediu a interdição judicial dos bens do marido, alegando a insanidade mental do marido, que acabou perdendo seus direitos civis e seus bens. Por ordens médicas, foi forçado a parar de escrever.
Professor, fundador e diretor de um colégio, subdelegado, vereador, comerciante e escritor, José Joaquim de Campos Leão (Qorpo Santo) nasceu em 19 de abril de 1829, na Vila do Triunfo e faleceu em 1 de maio de 1883 em Porto Alegre, com 53 anos.
Precursor do Teatro do Absurdo e do Surrealismo na dramaturgia, Qorpo Santo chocou a sociedade de sua época. Sua obra teatral só foi apresentada ao público pela primeira vez em 1966 ou 1968 (não se sabe ao certo) através da montagem de três de suas peças. Foi ele antecessor de Alfred Jarry, considerado por muitos o precursor do Teatro do Absurdo.
"Se o autor parece ansiar por um mundo em que prevaleçam a ordem e a obediência aos preceitos religiosos e legais, logo se insinua a malícia e o deboche, colocando em ridículo tais objetivos e mostrando a precariedade de nossos juízos", escreve Eudinyr Fraga, um dos principais pesquisadores da obra de Qorpo Santo.
Segundo o professor Eudinyr Fraga, as peças estão mais próximas do surrealismo de André Breton, autor do Manifesto Surrealista, do que do absurdo de Eugène Ionesco. Um dos argumentos é a presença das divagações dos chamados ''fluxos de consciência'', método que aparece no surrealismo do início do século 20 como ''automatismo psíquico puro''. A enxurrada de palavras aparece em diferentes textos, entre os quais As Relações Naturais. Mas também há elementos do absurdo.
Em 1877, o gaúcho José Joaquim Campos Leão, já autodenominado Qorpo-Santo, conseguiu autorização para abrir uma tipografia. Era a oportunidade que lhe restava para imprimir obras de sua autoria. Seus planos eram audaciosos, mas sua mente, já enferma, começava a preocupar os familiares. Até sua morte, provocada pela tuberculose em 1883, imprimiu em mau papel e com uma ortografia que repugnava o leitor de então os nove volumes de Ensiqlopédia, seu testamento literário. Da coleção, perderam-se dois volumes e, dos outros sete, existe apenas um exemplar de cada.
Mais de cem anos depois, a obstinação em perpetuar a obra parece não ter fim - em 1995, a pesquisadora Denise Espírito Santo descobriu um daqueles volumes, justamente o que continha 537 poemas escritos por Qorpo-Santo.
Foram dez meses vasculhando sebos e bibliotecas particulares de Porto Alegre até encontrar a raridade. Até então, conheciam-se apenas as 17 peças teatrais de sua autoria, daí a importância da descoberta. "Foi uma grande vitória pessoal", conta Denise, que não encontrou, porém, uma editora que aceitasse imprimir a jóia literária. Foram cinco anos de negociações até que a pequena Contra Capa, do Rio, apostasse no projeto.
"Fiz questão de exigir cuidados mínimos com a obra, o que acabou afugentando muitos editores", conta a pesquisadora, que incluiu uma foto inédita de Qorpo-Santo na capa do livro, finalmente lançado e intitulado Poemas (Contra Capa, tel. 0--21-236-1999, 384 páginas, R$ 37). Ao analisar o texto, Denise notou as características mais notáveis do escritor. "São textos de uma lógica impecável, que subverte padrões", observa. "Os poemas vão se somar agora ao teatro, pois têm a mesma linha de intenção de retratar o cotidiano com um espírito cômico, satírico."
Denise acredita que a obra acrescenta à poesia brasileira um estilo novo, em que assuntos triviais e nonsense (adotados depois pelos modernistas) dominam os temas, o que contraria as convenções estéticas do romantismo do século 19. Qorpo-Santo inovou também ao propor uma reforma ortográfica da língua: em sua poesia, a letra "c", por exemplo, deixa de ter o som de "q". "O cruzamento de línguas e culturas que sempre ocorreu no Sul foi fundamental em suas inovações vocabulares e também no uso do português castiço, em que mistura o erudito com o popular."
Os dados conhecidos de sua vida vêm de uma autobiografia, já escrita com sua peculiar ortografia. José Joaquim de Campos Leão nasceu em 1829, na Vila do Triunfo, Rio Grande do Sul. Sua vida transcorre normal, habilitando-se para o magistério até chegar aos 30 anos, quando acreditou-se santo e resolveu adotar o pseudônimo.
Em 1862, surgem as primeiras manifestações da doença que levariam a família a pedir intervenção judicial de seus bens. É avaliado por dois peritos de Porto Alegre, mas os médicos divergem sobre sua sanidade mental. Começa, então, a escrever compulsivamente os textos que vão compor a Ensiqlopédia.
"A análise destes textos me fazem acreditar que ele não estava louco", comenta Denise. "Há um rigor impecável, principalmente no uso da sua linguagem própria, o que seria difícil se estivesse com problemas mentais."
Transgressão - Em 1873, sofre as primeiras perseguições por suas idéias, publicadas em alguns jornais locais. Também nessa época, Qorpo-Santo começa a sentir os primeiros sintomas de problemas respiratórios. Mesmo assim, não interrompe a escrita - o planejamento, sem ser rigoroso, apresenta divisões não muito nítidas, alternando texto em prosa e em verso. É o período em que desenvolve as peças de teatro, com suas características de transgressoras e de vanguarda (leia texto abaixo).
"Qorpo-Santo tinha necessidade de falar de seu ofício, além de revelar suas influências, desde as peças encenadas em circos até as operetas apresentadas por companhias italianas, em Porto Alegre", conta Denise. Depois de publicar todos seus textos na própria tipografia, entregou os únicos exemplares de cada um dos nove volumes a um amigo comerciante. "Os livros ficaram na biblioteca desta família até que foram vendidos para sebos e sumiram."
Começou então um período de total silêncio sobre a obra de Qorpo-Santo, até a redescoberta, promovida pelo estudioso Guilhermino César, que organizou a primeira edição das peças teatrais, em 1969. O colecionador Julio Petersen, de Porto Alegre, localizou três volumes, outro foi doado ao Instituto Histórico da capital gaúcha e outros três pertencem à família Assis Brasil.
As obras foram fonte de pesquisa de Denise. Como estavam irregularmente distribuídos por vários volumes, a pesquisadora reuniu os poemas por afinidades temáticas. Também atualizou a ortografia para facilitar o entendimento. "Li todo o material durante dois anos até chegar à ordem em que foi publicado." A pesquisadora, porém, não está satisfeita: pretende lançar, até abril, outro volume, Miscelânea Quriosa, com mais textos de Qorpo-Santo. "Ainda faltam redescobrir dois livros", justifica.
Fonte: www.secrel.com.br