
Para o leitor atual, as famosas máximas do Marquês servem talvez de retrato do senso comum, ou melhor: são documento relevante do que pretendiam nossas elites e de como construíam seus valores políticos, sociais, éticos e, acima de tudo, o patrimônio moral, sempre legitimado pela religião. Por esse último aspecto é que as Máximas ganham subjetividade e se aproximam de uma espécie de memorialismo. O Marquês de Maricá não soube, porém, ou não quis, resguardar-se das marcas de sua própria enunciação, como aconselhava a tradição do gênero, e registrou, em grande parte dos aforismos, sua amargura e o pessimismo de um intelectual formado na tradição do liberalismo, que não consegue evitar a sensação de glória perdida. Hoje, a leitura dos aforismos do Marquês pode ser uma viagem arqueológica ao subsolo do continente perdido dos valores burgueses da sociedade brasileira.
Mariano José Pereira da Fonseca, marquês de Maricá, formou-se em filosofia e matemática em Coimbra. Foi preso, em 1794, por suspeita de participação na Inconfidência Mineira, ficando detido até 1797, quando foi perdoado. De 1808 a 1821 foi tesoureiro da Imprensa Régia e da Fábrica de Pólvora. Participou do movimento da independência, da elaboração da Constituição do Império, ocupando os cargos de Conselheiro de Estado (1822), ministro da Fazenda (1823/1825) e senador. Celebrizou-se, contudo, por sua obra de filosofia moral Máximas, Pensamentos e Reflexões, editada em 1839, composta de artigos que começara a publicar na imprensa em 1813