Mohamed Ahmad ibn al-Sayid Abdala nasceu no distrito de Dongola, Núbia
(depois Sudão), em 12 de agosto de 1844. Interessado precocemente por
assuntos religiosos, evitou a ortodoxia conformista e ao longo de sua
vida aperfeiçoou uma interpretação fundamentalista e mística do Islã.
Chegou a acreditar que o domínio otomano na Núbia e a corrupção
religiosa eram as duas faces da mesma moeda. Conseguiu reunir a sua
volta os diversos setores descontentes do país -- dos agricultores aos
mercadores de escravos e aos devotos, unidos pelo ódio comum aos turcos e
europeus -- e os integrou num poderoso movimento, ao mesmo tempo
político e religioso. Em 29 de junho de 1881 proclamou-se mahdi e desde
então passou a ser designado por esse título.
Convencido de que desempenhava uma alta missão religiosa contra os governos muçulmanos desviados da pureza corânica, al-Mahdi criou um estado islâmico fundamentalista que se estendeu do mar Vermelho ao centro da África.
Nos quatro anos seguintes, al-Mahdi apoderou-se de imensos territórios -- sua influência chegou até a Nigéria -- e de riquezas e armas das quais se valeu para aniquilar três exércitos egípcios enviados ao sul para combatê-lo. Sua maior façanha, em 26 de janeiro de 1885, foi a conquista da capital do Sudão, Khartum, cujo comandante militar era o britânico Charles George Gordon, que morreu na batalha. Al-Mahdi fixou-se na cidade de Ondurman, onde morreu, vítima de febre tifóide, em 22 de junho de 1885. Sua vida foi tema de escritores ocidentais, entre os quais o britânico Rudyard Kipling e o alemão Karl May, que não foram rigorosamente fiéis aos fatos. A importância de al-Mahdi começou a ser avaliada com isenção no Ocidente no início do século XX.