Jorge Amado
Jorge Amado nasceu numa fazenda de cacau em Itabuna (BA) em 10 de agosto
de 1912. Passou a infância em Ilhéus, onde assistiu à luta entre
fazendeiros e exportadores de cacau, que lhe inspirariam temas e tipos
romanescos. Em Salvador, onde fez o curso secundário, ligou-se à
Academia dos Rebeldes, grupo que, chefiado por Pinheiro Viegas, propunha
uma literatura voltada para as raízes nacionais.
Das mais significativas da moderna ficção brasileira, a obra de Jorge Amado baseia-se na exposição e análise, em moldes realistas, dos cenários rurais e urbanos da Bahia. Filia-se pois à corrente regionalista da literatura nordestina.
Radicado desde 1930 no Rio de Janeiro, Amado estudou direito e estreou logo a seguir em livro, publicando com notável regularidade os romances de sua primeira fase, todos marcados pela técnica do realismo socialista: O país do carnaval (1932), Cacau (1933), Suor (1934), Jubiabá (1935), Mar morto (1936), Capitães de areia (1937), Terras do sem fim (1942), São Jorge dos Ilhéus (1944), Seara vermelha (1946), Os subterrâneos da liberdade (1952). Ora surge nesses livros o drama vivido nas plantações de cacau do sul da Bahia, ora, na cidade de Salvador, a vida da infância abandonada, do proletariado, dos saveiristas, dos negros e marginais, com os conflitos e injustiças sociais em destaque. Tal fundamento sociológico confere aos romances um cunho de documentário dos problemas brasileiros, agravados pela transição da sociedade agrária para a industrial.
Em 1945 Jorge Amado foi eleito deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro, porém todos os membros da bancada do partido tiveram o mandato cassado, e ele sofreu fortes pressões políticas. Durante cinco anos, viajou pela Europa e Ásia, voltando ao Brasil em 1952. Em 1956 fundou o semanário cultural Para todos, que dirigiu, e em 1961 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras (cadeira no 23).
Data de Gabriela, cravo e canela (1958), o início da segunda fase de sua obra, caracterizada pelo tratamento satírico e humorístico dos textos, sem prejuízo das intenções de crítica social. Seguiram-se, na mesma linha, obras sempre muito bem recebidas, como Os velhos marinheiros (1961), Os pastores da noite (1964), Dona Flor e seus dois maridos (1966), Tenda dos milagres (1969), Teresa Batista cansada de guerra (1973), Tieta do Agreste (1977), Farda, fardão, camisola de dormir (1979), Tocaia grande -- a faca obscura (1984), O sumiço da santa (1988). Ao completar oitenta anos, em 1992, publicou o "romance autobiográfico" Navegação de cabotagem.
Um grupo à parte na volumosa produção do escritor, um dos mais lidos de toda a história literária brasileira, é constituído por obras de circunstância, como o relato de viagem O mundo da paz (1950) e o guia de Salvador Bahia de todos os santos (1945), ou obras fortemente marcadas por seu engajamento político como O cavaleiro da esperança (1945), biografia romanceada de Luís Carlos Prestes, e ABC de Castro Alves (1941), outro romance biográfico.
Traduzido para mais de trinta idiomas e detentor de inúmeros e importantes prêmios, Jorge Amado teve vários de seus trabalhos adaptados para o rádio, a televisão e o cinema. Em 1979, sua mulher, Zélia Gattai, companheira de toda a vida, iniciou sua própria carreira literária, com o livro de memórias Anarquistas, graças a Deus, a que se seguiram Um chapéu para viagem (1982), Senhora dona do baile (1984), Jardim de inverno (1989) e Chão de meninos (1993).