JOSÉ DE ALENCAR - ESCRITOR BRASILEIRO

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José de Alencar
Filho do sacerdote, deputado, presidente da província do Ceará e senador de igual nome que viveu entre 1794-1860, José Martiniano de Alencar nasceu em Mecejana CE em 1o de maio de 1829. Passou a primeira parte da infância em sua terra natal, em contato com a natureza. Aos nove anos, viajou para a Bahia, em longa travessia pelo sertão. Tudo o que então presenciou ficou para sempre gravado em sua mente: "A essa jornada cheia de acidentes ... deve o autor as mais vigorosas impressões da natureza americana, e das quais se acham os traços em muitos de seus livros, especialmente n'O guarani e Iracema, e agora n'O sertanejo", como ele mesmo haveria de rememorar mais tarde.

Situado num momento em que o espírito brasileiro se concentrava na consolidação de uma autonomia -- tanto no plano político como no intelectual --, o papel de Alencar consistiu em polarizar na sua personalidade as diversas correntes que se desenvolviam na alma do povo e fazer com que se juntassem numa síntese de pensamento e arte tipicamente brasileiros.

No Rio de Janeiro, onde em 1840 começou a freqüentar o colégio, destacou-se nos estudos de humanidades. Sempre obteve boas notas, demonstrando grande talento e um anseio de triunfar a que se juntavam aquela ponta de orgulho, vaidade e espírito de emulação que muitos notaram nele. Tipo sentimentalista e taciturno por natureza, desenvolveu ainda mais a imaginação de que era dotado ao ler com avidez crescente as novelas de amor, de aventura ou históricas que, publicadas em livros ou nos folhetins dos jornais, tiveram grande voga na época. À convergência dessas circunstâncias deve-se por certo o fato de já antes dos 13 anos ter tentado as primeiras incursões no terreno da narrativa histórica, em que tanto se distinguiria.

A fim de prosseguir seus estudos, foi a seguir para São Paulo, onde se diplomou em direito (1850). Arredio à vida estudantil, viveu então uma fase de recolhimento e estudo na qual cuidou de expandir sua cultura literária, lendo os grandes autores estrangeiros, os clássicos, os filósofos, os historiadores e cronistas do Brasil colonial. Familiarizou-se com Balzac, Chateaubriand, Victor Hugo, Dumas e Byron, ao mesmo tempo que desenvolvia no espírito a idéia da nacionalidade literária, para definir e estabelecer os lineamentos da literatura brasileira. Motivado pelo êxito de A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, escreveu em 1847 o romance Os contrabandistas, a que se seguiram O ermitão da glória e A alma de Lázaro.

Em 1851, fixou residência no Rio de Janeiro, exercendo a advocacia e militando na imprensa. Data daí sua fase de mais intensa atividade intelectual, seja na crítica literária, no estudo histórico, na produção romanesca, no teatro, como na crítica política e na atuação parlamentar.

O escritor. A obra de ficção de José de Alencar iniciou-se em 1857 com a publicação de O guarani, que lhe granjeou enorme popularidade ao ser lançado em folhetim, lido avidamente até nas ruas, à luz dos lampiões. A longa série de suas obras narrativas costumam ser classificadas em três grandes grupos: (1) o dos romances urbanos (Cinco minutos, 1860; A viuvinha, 1860; Lucíola, 1862; Diva, 1864; A pata da gazela, 1870; Sonhos d'ouro, 1872; Senhora, 1875; Encarnação, 1877); (2) o dos romances históricos (O guarani, 1857; Iracema, 1865; As minas de prata, 1865; Alfarrábios, 1873; A guerra dos mascates, 1873; Ubirajara, 1874); e (3) o dos romances regionalistas (O gaúcho, 1870; O tronco do ipê, 1871; Til, 1872; O sertanejo, 1876). Para o teatro, Alencar escreveu as peças Verso e reverso (1857), O demônio familiar (1857), O crédito (1857), As asas de um anjo (1858). Sua vasta produção compreende ainda crônicas, ensaios, estudos filológicos, escritos políticos, poesias.

Um dos grandes patriarcas da literatura brasileira, pelo volume e mensagem de sua obra, José de Alencar deu à ficção produzida no século XIX um tratamento monumental bem típico. A originalidade de sua contribuição evidenciou-se sobretudo nos romances inspirados em lendas indígenas (Iracema, Ubirajara). Nessas obras, a fórmula da afirmação nacionalista -- ou a hipótese de "um sentir brasileiro" dentro da língua portuguesa, como disse o próprio Alencar -- consistiu basicamente no aproveitamento das tradições dos índios pela literatura da ficção.

Na bibliografia brasileira, o interesse pelo estudo da ficção alencariana só perde no confronto com o interesse existente em torno da obra de Machado de Assis. É extensa sua fortuna crítica na análise do estilo e das influências que ele sofreu -- quanto ao indianismo (Chateaubriand e Cooper), às narrativas históricas (Alexandre Herculano e Walter Scott) e aos romances urbanos (Balzac, George Sand, Dumas Filho).

Seu nativismo, sob esse aspecto, foi muito pouco explorado. Luís da Câmara Cascudo apontou-o como "um dos informadores máximos do folclore", não apenas pela valiosa contribuição de O nosso cancioneiro (1874), mas também pelo manancial de mitos e lendas, trovas e cantigas, tradições e costumes, descrições de festas religiosas e lutas políticas, recolhido pelo autor, de norte a sul, com a preocupação de dar um conteúdo eminentemente nacional aos seus livros. "Ninguém mais representativo dessa busca ansiosa de uma intensidade e ressonância brasileira, como instrumento de expressão literária, que José de Alencar" -- escreveu Augusto Meyer ao comparar o esforço do prosador ao de Gonçalves Dias na poesia.

O político. Como seu pai, José de Alencar se projetou na política e sempre militou no Partido Conservador. Foi deputado pelo Ceará em quatro legislaturas (entre 1861 e 1877) e ministro da Justiça no gabinete de 16 de julho de 1868, sob a presidência do visconde de Itaboraí, cargo do qual se demitiu em 9 de janeiro de 1870.

Dirigiu ao imperador duas séries de Cartas a Erasmo (1865, 1867), nas quais analisava a situação interna do país, e travou inúmeras e célebres polêmicas, a última das quais com Joaquim Nabuco (1875), então um jovem escritor de 26 anos. Todas as reformas que pleiteou ou defendeu preservavam a pureza do regime monárquico e a estrutura escravocrata.

Reconhecido por Machado de Assis como "o chefe aclamado da literatura nacional", mas recolhido à vida privada e já enfermo, José de Alencar fez em 1876 sua únida viagem à Europa, percorrendo Lisboa, Paris e Londres numa inútil busca de melhoras para sua saúde. Casara-se aos 35 anos (a noiva tinha 18) e, ao falecer no Rio de Janeiro RJ, em 12 de dezembro de 1877, com apenas 48 anos, deixou seis filhos, um deles o escritor Mário de Alencar.

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