Aleijadinho
Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, nasceu em Vila Rica, hoje Ouro
Preto MG, por volta de 1730. Era filho natural de um mestre-de-obras
português, Manuel Francisco Lisboa, um dos primeiros a atuar como
arquiteto em Minas Gerais, e de uma escrava africana ou mestiça que se
chamava Isabel. Tudo o que se sabe de sua vida procede do livro Traços
biográficos relativos ao finado Antônio Francisco Lisboa (1858),
publicado, mais de quarenta anos depois de sua morte, por Rodrigo José
Ferreira Bretas.
A visão de mulato, o caráter de brasilidade na concepção do barroco, e a saúde, robustez e dignidade de sua obra, aliaram-se para fazer do Aleijadinho o maior e mais admirado arquiteto e escultor de que se tem notícia em todo o Brasil colonial.
A formação profissional e artística do Aleijadinho é atribuída a seus contatos com a atividade do pai e a oficina de um tio, Antônio Francisco Pombal, afamado entalhador de Vila Rica. Sua aprendizagem, além disso, terá sido facilitada por eventuais relações com o abridor de cunhos João Gomes Batista e o escultor e entalhador José Coelho de Noronha, autor de muitas obras em igrejas da região. Na educação formal, nunca cursou senão a escola primária.
O apelido que o celebrizou veio de enfermidade que contraiu por volta de 1777, que o foi aos poucos deformando e cuja exata natureza é objeto de controvérsias. Uns a apontam como sífilis, outros como lepra, outros ainda como tromboangeíte obliterante ou ulceração gangrenosa das mãos e dos pés. De concreto se sabe que ao perder os dedos dos pés ele passou a andar de joelhos, protegendo-os com dispositivos de couro, ou a se fazer carregar. Ao perder os dedos das mãos, passou a esculpir com o cinzel e o martelo amarrados aos punhos pelos ajudantes.
Produção. O Aleijadinho tinha mais de sessenta anos quando, em Congonhas do Campo, realizou suas obras-primas: as estátuas em pedra-sabão dos 12 profetas (1800-1805), no adro da igreja, e as 66 figuras em cedro que compõem os passos da Via Crucis (1796), no espaço do santuário de Nosso Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Encarnadas mais tarde pelos pintores Manuel da Costa Ataíde e Francisco Xavier Carneiro, tais figuras sofreram alterações indébitas em sua aparência, e só em 1957 foram restauradas nas cores originais pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Toda sua extensa obra foi realizada em Minas Gerais e, além desses dois grandes conjuntos, cumpre citar outros trabalhos.
Certamente admirada em seus dias, já que as encomendas, vindas de vários pontos da província, nunca lhe faltaram, a obra do Aleijadinho caiu porém no esquecimento com o tempo, só voltando a despertar certo interesse após a biografia precursora de Rodrigo Bretas. O estudo atento dessa obra, como ponto culminante do barroco brasileiro, esperou mais tempo ainda para começar a ser feito, na esteira do movimento de valorização das coisas nacionais desencadeado pela Semana de Arte Moderna de 1922.
Antônio Francisco Lisboa, segundo consta, foi progressivamente afetado pela doença e se afastou da sociedade, relacionando-se apenas com dois escravos e ajudantes. Nos dois últimos anos de vida se viu inteiramente cego e impossibilitado de trabalhar. Morreu em algum dia de 1814 sobre um estrado em casa de sua nora, na mesma Vila Rica onde nascera.
Principais obras de Aleijadinho
Em Ouro Preto: igreja de São Francisco de Assis (risco geral, risco e esculturas da portada, risco da tribuna do altar-mor e dos altares laterais, esculturas dos púlpitos, do barrete, do retábulo e da capela-mor); igreja de Nossa Senhora do Carmo (modificações no frontispício e projeto original, esculturas da sobreporta e do lavatório da sacristia, da tarja do arco-cruzeiro, altares laterais de são João Batista e de Nossa Senhora da Piedade); igreja das Mercês e Perdões ou Mercês de Baixo (risco da capela-mor, imagens de roca de são Pedro Nolasco e são Raimundo Nonato); igreja São Francisco de Paula (imagem do padroeiro); igreja de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias (quatro suportes de essa); igreja de São José (risco da capela-mor, da torre e do retábulo); igreja de Nosso Senhor Bom Jesus de Matosinhos ou de São Miguel e Almas (estátua de são Miguel Arcanjo e demais esculturas no frontispício); igreja de Nossa Senhora do Rosário (imagem de santa Helena); e as imagens de são Jorge, de Nossa Senhora, de Cristo na coluna e quatro figuras de presépio hoje no Museu da Inconfidência.
Em Congonhas: igreja matriz (risco e escultura da sobreporta, risco do coro, imagem de são Joaquim).
Em Mariana: chafariz da Samaritana.
Em Sabará: igreja de Nossa Senhora do Carmo (risco do frontispício, ornatos da porta e da empena, dois púlpitos, dois atlantes do coro, imagens de são Simão Stock e de são João da Cruz).
Em Caeté: igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso (altar colateral de são Francisco de Paula e imagem de Nossa Senhora do Carmo com Menino Jesus).
Em Catas Altas: igreja de Nossa Senhora da Conceição (imagem do Cristo crucificado).
Em Santa Rita Durão: igreja de Nossa Senhora do Rosário (altar colateral de santa Ifigênia); em Barão de Cocais: matriz de São João Batista (imagem do padroeiro na portada, risco e tarja do arco-cruzeiro).
Em São João del-Rei: igreja de São Francisco de Assis (risco geral, esculturas da portada, risco do retábulo da capela-mor, altares colaterais, imagens de são João Evangelista); igreja de Nossa Senhora do Carmo (risco original frontispício e execução da maioria das esculturas da portada).
Em Tiradentes: matriz de Santo Antônio (risco do frontispício).
Em Nova Lima: matriz de Nossa Senhora do Pilar (altar-mor, dois altares colaterais, púlpitos e altar da sacristia, todos provenientes da capela da fazenda Jaguará, em Pedro Leopoldo).